domingo, 13 de dezembro de 2009

Quando não poderia ser diferente - POR MARLA

Não há decisões estabanadas, nenhuma história termina no dia em que ela realmente acaba. Há sempre um desvencilhamento anterior lento, sutil.(Como quando alguém percebe que gradualmente foi perdendo o apetite na hora em que costumava sentir mais fome).Não há aquilo que poderia ser feito de outro jeito. O aprendizado incluía as decepções e os acertos de ambos os lados.E, neste ínterim, os momentos de encontro: dos sonhos, solidões ou prantos.Não há dor que se amenize usando a força momentânea da raiva.Um coração machucado precisa de silêncio e colo, não de berrar aos quatro ventos sua falsa independência. Há ruídos que maculam o que deveria ser preservado.Há que haver gratidão pela lição que vem do que não pode ser mudado. Mas há sempre a possibilidade da transmutação.Numa desilusão, esteja atento: ninguém se perde de si mesmo porque foi abandonado. Por maior que seja a luz, não deixe que a sua sombra o encubra só porque um ciclo acabou sem explicações plausíveis.Há sempre alguma coisa nova por nascer e que precisa deste espaço.Há sempre uma história mais bonita adiante.Há sempre uma forma mais saudável de lidar com sua dor. E recriar o seu destino, tentar se harmonizar com as decisões do outro sem trazer para si as incompletudes dele, é uma forma bem mais interessante de sentir amor.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"Conselho (in)util"

Sempre me salvei e me perdi

nunca dos outros,

mas de mim.

Ser é assim.

INDIFERENÇA

" - Os indiferentesOdeio os indiferentes.Acredito que viversignifica tomar partido.Indiferença é apatia,parasitismo,covardia.Não é vida.Por isso, abomino os indiferentes.Desprezo os indiferentes,também, porque me provocamtédio as suas lamúriasde eternos inocentes.Vivo, sou militante.Por isso, detestoquem não toma partido.Odeio os indiferentes.
"Antonio Gramsci

REQUINTES DE DELICADEZA - POR MARLA

É com requintes de delicadeza que me conquistam. Mesmo que eu tenha crises de mau-humor ou de independências, espera com tranqüilidade minha entrega, deixa eu querer ficar até que eu pense por dentro: “ isto é a felicidade!”.Mas não desarrume minha rotina tão bruscamente, nem exija de mim o contrário do que havia quando me conheceu.Assim, eu serei outra pessoa, e nada mais restará do encanto.É com requintes de delicadeza que te guardarei no corpo.E não vou querer nada além do que nos parecer justo: tua mão na minha , meu olhar no teu, e um Universo inteiro por explorar...tão nosso.Ao contrário, eu me despeço. Com todo o requinte de delicadeza que certas crueldades têm.

**Marla de Queiroz

MINHA MELHOR COMPANHIA -POR MARLA

Ele não sabe mais nada sobre mim.Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros puder ler em algumas semanas.Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos.Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto.Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos.Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa.Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco.Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos.Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim.Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre.Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura.Hoje foi um dia em quque percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.

**Marla de Queiroz

QUANDO SEXO NÃO É INTIMIDADE

Intimidade não se consegue numa noite de sexo. Por maior que seja a troca, o prazer, a peripécia, o orgasmo. Intimidade é construída diariamente, na resolução de um conflito, na confissão de um trauma, na celebração das alegrias, na torcida por uma vitória, na confiança de partilhar os sonhos mais íntimos. E isso demanda tempo, investimento voluntário, e o desejo de comprometimento. Numa noite de sexo por sexo o que se consegue é uma espécie de alívio fisiológico, uma injeção efêmera de endorfinas e serotoninas, ou nem isso. Sexo por sexo poderá ser tão saudável quanto sexo com amor, mas não promove intimidade. A carícia de quem ama alimenta os seus campos sutis, sua alma; a carícia de quem vivencia apenas o desejo alimenta o corpo.(Uma luz ilumina a superfície, a outra penetra).
Penetrar um corpo numa relação sexual não necessariamente significa comunhão com ele. E o prazer, na ausência da comunhão, é muito mais solitário e individual, mesmo que simultâneo.
Penetrar um corpo com amor, é ter vontade de perder-se e a confiança de que se estará seguro nesta entrega de todos os sentidos. Poderá haver tanta poesia numa relação quanto em outra, mas intimidade não. Poderá haver tanta diversão e desejo em uma como em outra, mas intimidade só se consegue com o antes e o depois em consonância com o durante. Sexo sem amor pode ser tão gostoso quanto com. Mas poder dizer um EUTEAMO sonoro com toda a força do teu coração naquele momento em que alguém se funde a você, é um orgasmo-bônus que só a intimidade proporciona.

( De qualquer forma, o melhor dos sexos continua sendo o seguro. Porque intimidade também não dispensa preservativos. A menos que...)
*
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Marla de Queiroz

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Meus Anseios por Florbela

Anseios
Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!

Deixa-te estar quietinho!
Não amaisA doce quietação da soledade?
Tuas lindas quirneras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbres o brilho do luar!...
Não 'stendas tuas asas para o longe..
Deixa-te estar quietinho, triste monge,Na paz da tua cela,
a soluçar...

EU por Florbela


Eu ...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

domingo, 20 de setembro de 2009

NECESSÁRIAS LEMBRANÇAS

Hoje quando te olhei consegui sentir em teus confusos gestos o que nunca tinha conseguido enxergar. Na verdade nunca tive coragem de te olhar cuidadosamente , talvez fosse para me proteger.O medo de distraidamente tropeçar para dentro de ti e cair sem o devido cuidado me fez evitar todos os olharesque te me revelariam. Ilusão querer evitar a queda. Sempre para um dos dois a "pedra" estará mais adiante fazendo com que um se atrase em relação ao outro e este tente incessantemente o alcançar,como uma necessária busca que dá sentido a vida.No nosso caso,intencional ou não, mas você provocou esse meu despertar. Não sei se por medo da responsabilidade de saber que estava dando sentido a vida de alguem ou por simples desapego. Eu sei que você sentia nos meus NÃOS toda a angústia que me consumia e a necessidade de desviar meu olhar para conseguir dizê-lo. Vi que era necessário esse desvencilhamento de tudo que me fazia não-ser. Mesmo me sufocando de vontade de ti, tive que escolher a dorzinha latejante em meu peito para te fazer valorizar minha presença que se derramava toda dentro de ti."Renunciar o que mais se deseja com toda a força do coração é uma das decisões mais cruéis que se pode tomar".Hoje me pergunto se todo esse esforço de auto-afirmação valeu a pena. Acho que se nos preocupássemos menos em saber o quanto significamos para as pessoas, e nos ocupássemos mais em viver tudo que há pra viver ao lado delas,sem medo, sem culpa, nos fazíamos muito mais necessarios ,sem precisar de muito esforço para tal. Hoje acordei com saudade dos teus delicados gestos, da tua maneira de falar do meu perfume ("adoro teu cheiro!"),da nossa energia,só nossa ,das palavras e sorrisos trocados nos olhares quando nos víamos, dos beijos roubados nos corredores, de deitar e encostar a cabeça em teu peito e sentir a paz mais gostosa do mundo. É engraçado, mas gosto de sentir saudade de você. (Sentia até mesmo quando estávamos juntos,sempre) Talvez, mais engraçado seja saber que ainda poderia viver todos esses momentos ao teu lado e não me permitir. (Não sei se essa punição quero dar a mim ou a você) O fato é que ainda não consigo te ver sem te desejar, te ver e controlar a vontade que lateja dentro de mim de te dá "nosso abraço" e cantar em teu ouvido: você ainda é o delírio mais gostoso que vive dentro de mim!